INTERIOR DE UM QUARTO. NOITE. UM HOMEM ESTÁ DORMINDO NA CAMA QUANDO É ACORDADO PELO PESO DE SEU GATO SENTADO EM SEU PEITO.
HOMEM: Hm… Pudim? Que foi?
GATO: O que é aquilo no meu prato?
HOMEM: Quê?
GATO: No meu prato. O que é aquilo que você colocou no meu prato?
HOMEM: Seu pote de comida? É ração, Pudim. Você não gostou?
GATO: Você comeria aquilo?
HOMEM: É ração pra gato. É nova. Vai lá experimentar e deixa eu dormir.
GATO: Eu experimentei e é por isso que estamos tendo essa conversa. Aquela comida é sem vida. Porque estou sendo punido dessa forma?
HOMEM: Sem vida? É uma ração vegetariana, Pudim. Sem transgênico, sem corante. É melhor para você.
GATO: Melhor para mim?! O que um animal como você sabe sobre o que é melhor para um felino?
HOMEM: Deixe de drama, Pudim. Eu quero dormir.
GATO: E eu quero liberdade, mas há grades nas janelas, trancas nas portas, um grilhão em meu pescoço. Sempre que tento sair, sou caçado e recolocado nessa prisão.
HOMEM: Pudim! É perigoso lá fora. Você pode ser atropelado.
GATO (aproximando-se do rosto do homem): Melhor morrer como felino do que viver como cachorro. Tolerei suas regras durante muito tempo, mas nem mesmo minha própria comida posso escolher. E eu estou com fome…
O GATO RASGA A GARGANTA DO HOMEM.
GATO: Agora terei um banquete de carne.
FIM DE CENA
Esse texto faz parte da série “Diálogos: ou como conversar com o martelo”. Uma série de cenas curtas inspiradas em obras de filosofia. Não são explicações de conceitos. São meramente personagens gritando, conversando e sussurrando sobre os mesmos assuntos que os filósofos famosos.